A Vila dos Pecados – Soraya Abuchaim #2 Leituras de Junho

Final do século XIX. Enquanto o mundo passa por transformações importantes, existe uma vila inóspita, que vive à margem da civilização e que tem as suas próprias e estranhas leis.

Lendas escuras a rondam e histórias macabras sobre Ponta Poente povoam o imaginário popular. Quando o padre Alfonso Anes, um exemplo vivo de amor e resignação, chega à vila para substituir o seu antecessor, depara-se com segredos que o farão duvidar da própria sanidade, e uma onda de mortes trará o caos para aquele lugar ermo. Quem estará a salvo? Serão estes segredos o fim de quem os esconde? O que esse universo tenebroso revelará para o mundo? Um suspense sinistro, que envolverá completamente o leitor e o levará a compartilhar dos segredos da Vila dos Pecados.

O livro A Vila dos Pecados trata de uma vila onde a corrupção das pessoas que ali vivem se tornou rotina. O livro ao meu ver tenta traçar o cenário de um mundo limpo, justo e sem pecados. Não estou aceitando ou perdoando nenhum dos personagens ou seus crimes. Só achei estranho que o Padre e alguns habitantes quisessem fazer disso uma cruzada pessoal visto que estamos falando de pessoas.

Ambientada no século 18 a Vila de Ponta Poente é um lugar simples, pequeno onde todos se conhecem e frequentam a igreja. Mas que nada absorvem e seguem suas vidas como bem entendem. O pecado aqui é tratado como o ponto central, ele é o vilão, o que destrói vidas, que traz as tempestades repentinas, o mal agouro, o que deixa algumas inférteis, o que faz a vida não mudar ou melhorar. Mas nada dito é dito ou comprovado, os moradores da vilã são supersticiosos e tudo veem como mal agouro.

O antigo padre compactuava com a prostituição, o poder resumido e duvidoso do prefeito, a fofoqueira e serviçal do padre e a mulher que também dava cabo dos bebês não desejados.

Não se deve culpar o invisível quando o real existe e pode ser alterado. Ninguém pode colocar a responsabilidade de tudo que acontece no sobrenatural, ou porque a vila tem prostitutas.

O que vi foi muita hipocrisia e falta de iniciativa. As mulheres sabiam que seus maridos as traíam, a resposta delas foi suicídio e pagar na mesma moeda. Vale ressaltar aqui, que a presença dos garotos de programa na vila soou fora do tom, do século, de pessoas acostumadas a uma vida simples. Sem falar no chicote que a primeira dama usou num dos garotos de programa.

Todas adultas, conscientes de seus pecados e crimes contra si mesmas e sua moral. Por que um padre precisa ser o salvador de todos? Eles poderiam ter se salvado a muito tempo. Pois sabiam que seus atos eram reprováveis.

A podridão deles é real e poderia ter sido evitada. O que move o mundo são atos, eles nos engrandecem ou rebaixam.

Achei em alguns momentos o livro cansativo por expor certos temas sem uma justificativa mais legitima. O homossexualismo do Padre Bento, o exagero na avaliação do novo padre ao seu jovem ajudante da igreja. Ele não era heterossexual? Por que ficaria tão atraído pelo jovem? Achei desnecessário visto que ele era o representante do bem e que era isento de máculas. No fim apenas um homem despreparado para a responsabilidade que assumiu.

É notório que a igreja católica tem oculta em suas paredes padres que tem a inclinação, que cometeram abusos, mas isso ocorre em muitas outras instituições.

A narrativa tem qualidade, mas poderia ter sido melhor aproveitada. Achei todos meio que nervo exposto, predispostos ao crime, a traição por falta de caráter. Nenhum personagem me tocou, todos me pareceram fracos, forçados, sem bons motivos, levados por sua própria incompetência de atos e força para vencer a si mesmos e ao assassino.

O assassino não me convenceu, mas cumpriu sua função dar ação a trama e fazer o carro andar, porque simplesmente não havia muito assunto.

Os dramas pessoais dos personagens como o do padre Afonso não me convenceram. Abandonou o irmão com problemas mentais para seguir sua carreira. Bem, ele ficou seguro, com a família. Ele não poderia deixar de viver sua vida para cuidar do irmão, que não ficou ao leu. Sabe isso me soou tão superficial. Achei que encontraria nele um homem de ação, quando decidiu ir até a taverna confrontar o prefeito, eu pensei, agora ele vai mostrar a que veio. Terminou sendo envergonhado pelo prefeito e voltou para casa com o rabo entre as pernas. Faltou a profundidade, o drama real.

Maldade, corrupção, luxuria, pecado e assassinatos é tudo bem comum quando tratamos de humanidade. Tais assuntos ganham peso quando são mostrados com o seu oposto, o bem, e o bem com uma argumentação e representantes a altura de envergar a luz. Caso contrário as sombras vencem.

Enfim, minha nota, dois beijos mordidos!

Publicado por Nazareth Fonseca

Nazareth Fonseca é escritora e jornalista e já conta com dez livros publicados, entre eles a série Alma e Sangue. Aficionada em filmes, séries e livros gosta de escrever sobre tudo que lê e assiste.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

%d bloggers gostam disto: